terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Panis et circensis
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Feliz Natal
Dai-me a felicidade de ver um só, basta um parlamentar na cadeia, condenado pelo STF;
Dai-nos a aprovação da lei de execuções penais e um movimento popular pela reforma do judiciário;
Dai-me uma pele de rinoceronte para resistir aos terríveis casos de criancinhas brutalizadas, tantas crianças foram atacadas, Papai Noel. Do João Hélio, passando por Isabela até esse menino das agulhas. Por que, Papai Noel?;
Dai-me a coragem dos canalhas para fazer o bem, em vez das vacilações covardes de muitos homens de bem;
Dai um pouco mais de memória ao povo mas se eu for irresistivelmente atraído pelo mal, diante do sucesso de tantos impunes, dai-me um panetonezinho daqueles do Arrudinha cheio de euros;
Dai-me um terno de teflon igual ao do Sarney onde nada gruda;
Dai-me advogados tão bons como os do Maluf e do Daniel Dantas. Eu quero meias calças grandes, cuecas reforçadas, hábeas corpus preventivos;
Dai-me a capacidade de mentir sem tremores,
Dai-me o tempo e a paciência, que eu conquistarei o esquecimento;
Dai-me a cara-de-pau de tantos impunes vitoriosos, dai-me sorrisos cínicos. Posso precisar, Papai Noel, quem sabe?
Fonte: http://colunas.ig.globo.com/arnaldojabor/2009/12/24/os-pedidos-para-papai-noel/
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Quantas ilhas temos?
com gente estranha
como todos se parecem de um mesmo lugar. como todos frequentam a mesma loja de uma grife inexistente. E de onde surgem que nunca os vi. Por andamos nós?
Há uma separação de quem pensa, quem produz o pensamento, quem comercializa o pensamento, quem assiste ao pensamento, de quem consome, e? e os outros?
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Sentimento Insular [Abordagem criativa de "Sentimento dum Ocidental" de Cesário Verde]
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Acontecimento
No último dia 20, o Sarau lançou a sua mais recente Antologia, que possui mais de 40 poemas escritos por poetas da UFSC e de Floripa.
O evento se realizou no Centro de Comunicação e Expressão da UFSC, com muita música, poesia, dança e outras atrações, uma delas, o curta com o título Guiness Records - O maior Ponto de Ônibus do Mundo, de Chico Caprário e Eliézer Kuhn (Grupo Expressão Sarcástica), me chamou a atenção pela sua irreverência. Ele traz aquela ironia que nós, florianopolitanos, estamos acostumados a ouvir e a fazer quando o assunto diz respeito às: "GRANDIOSAS OBRAS" DE FLORIANÓPOLIS.
Confira!
http://www.youtube.com/watch?v=yEL_uyHmFNs
Referências: Sarau Boca de Cena
http://www.saraubocadecena.com/index.html
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Geisy e o vazio
Até onde pude acompanhar a repercussão do caso, duas vertentes de explicação prevaleceram. A primeira, capitaneada por especialistas convocados pelos grandes veículos de informação, atribui o ocorrido a personalidades psicopatas e criminogênicas cuja perversidade, em um processo que caberia à psicologia das massas descrever, teria contagiado indivíduos normais e acima de qualquer suspeita. Já a segunda vertente de explicações toma a reação dos alunos da Uniban como sinal de que, entre os jovens, uma virada conservadora se anuncia.
Suspeito, aliás, que essa nostalgia da moralidade perdida explique a própria proposição da hipótese de que uma virada conservadora esteja acontecendo. Não importa que quem a enuncie tome-a como um dado a ser comemorado ou lamentado: os dois lados sonham em voltar a experimentar algo que já não é mais possível experimentar, a saber, a força de um sentimento autêntico de repugnância moral ou, no caso dos revolucionários, um sentimento autêntico de repugnância à repugnância moral (observemos, de resto, que a grandiloqüência da hipótese da virada à direita assim como a paixão com que “conservadores” e “progressistas” discutem o caso Geisy carregam algo da exasperação dos alunos da Uniban).
O que eu disse em relação à moralidade deve ser estendido a todos os códigos de conduta que definem o campo do que se costuma chamar de normalidade. Talvez seja por isso – isto é, por uma espécie de nostalgia dos padrões perdidos de normalidade – que psiquiatras e criminologistas queiram referir o episódio da Uniban à ação de psicopatas: maneira de devolver o mundo às categorias que, um dia, puderam descrevê-lo, mas que, possivelmente, já não servem mais.
Penso que Geisy Arruda, mais do que outras mulheres, mais do que outras blondies, consegue encarnar o vazio exasperante que substituiu os códigos de moralidade e normalidade. Esse é, se quiserem, o seu enigmático talento. Esse, aliás, é o talento geral das celebridades contemporâneas. A celebridade, hoje, é uma espécie de nobreza que prescinde de virtudes excepcionais em algum sentido habitual da palavra. Ao contrário, os chamados “famosos” dão-nos a sensação de que estão lá simplesmente por terem sido escolhidos por Deus, sem ter que dar nada em troca. Tudo se passa como se expressassem uma celebridade pura, vinda do fato de que o Outro 0s ama mais do que a nós, e ponto final. Mas não é assim. Essas pessoas, como Geisy, têm, sim, um talento excepcional: esse que, insisto, consiste em encarnar, melhor do que nós, o vazio.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
A estética da precariedade
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Além trópicos
Esses e estas são silêncios brancos e vulneráveis. Silêncios prontos para cederem suas superfícies a vozes modeladas com tinta ou spray. Estas, por sua vez, buscam ser ouvidas pelos olhos do cidadão que passa, esteja ele atento ou não. Daí que encontramos, pelas ruas de nossa cidade, ocupando os muros e paredes de propriedade particular ou de ninguém, imagens criativas em graffitti, mensagens anônimas berradas em letras garrafais, insultos de mau gosto, e até mesmo gritos de cunho político e social.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Acontecimentos [2]
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Muros
No início desta semana fiz algo que, por motivos diversos, não estou mais acostumada a fazer: parar para assistir TV. Relutante, eu parei. Assisti a uma notícia sobre a homenagem feita em comemoração aos 20 anos da queda do Muro de Berlim.
Em frente à tela vi uma cena onde estavam várias pessoas, em Berlim, prestes a derrubar peças de dominó gigantes e coloridas que estavam enfileiradas. As peças caíram uma a uma para simbolizar a queda do Muro.
O que mais me chamou a atenção foi o fato daquelas pessoas estarem lá reunidas, dispostas à prestar uma bonita e simbólica homenagem. Elas comemoravam um fato histórico, mais do que isso, comemoravam um resgate da liberdade, da vida e do direito de ir e vir
Parei mais uma vez e me questionei:
Até que ponto reformulamos nossos pensamentos e atos diante da destruição de algo físico?
O que um muro representa e quais são as suas variações?
Meu pensamento parou na Ilha. Parou em nós.
Florianópolis tem muitos muros.
Não com as mesmas proporções políticas, físicas e psicológicas agregadas ao Muro de Berlim.
Mas aqui também temos muros que podem ser chamados de muros políticos, físicos e psicológicos que representam nossa cultura, nosso modo de ser, agir e pensar.
Há diversos muros que são construídos e reconstruídos a todo momento.
Muros físicos para tentarmos nos proteger da crescente violência da cidade,
Muros etnocêntricos que impossibilitam o conhecimento sobre o outro que nos visita ou vem para ficar,
Muros psicológicos para a preservação da nossa "identidade",
Muros políticos que nos impedem de saber o que estão planejando para nós, cidadãos de Florianópolis.
Há tantos outros muros...
E há mais questionamentos.
Criamos muros com intuito de derrubá-los depois ou queremos apenas delimitar nosso território?
Quanto um muro pode nos proteger e nos aprisionar?
E ainda, o que podemos chamar de nosso?
As pessoas continuam chegando à Ilha. Umas retornarão para as suas cidades, outras permanecerão aqui.
As pessoas não deixarão de ir e vir, os muros continuarão sendo construídos, destruídos e reconstruídos.
A Ilha no futuro poderá ser cercada por muros do movimento "Fora Haole" ou, talvez, quem sabe, ela terá mais pontes e o padrão de Jurerê Internacional.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Acontecimentos
quarta-feira, 11 de novembro
gratuito
SESC Florianópolis
Trav. Siryaco Atherino, 100 - Prainha (48) 3229-2200
Elomar e Camerata em canções Menestrelescas, Árias e Antífonas
sexta-feira, 13 de novembro
R$20 inteira, R$10 meia
Teatro Álvaro de Carvalho
Rua Marechal Guilherme, 26 - Centro.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Réplica – a Antônio Cândido
Humor involuntário na ilha
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Deu(-se mal) no DC
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Isn't it ironic... don't you think?
Eu não vou falar aqui sobre machismo e outros clichês. Mas o pior é que a moça ainda está de costas na foto. Talvez ele tenha dado um bom exemplo de coerência aceitando a foto da moça em sua coluna, já que como ela está de costas não sabemos se ela é bonita ou não.
Chega de falar, afinal, não se ensinam coisas novas a um macaco velho.
Vou deixar o final para o Dr. Gori, ele sempre sabe qual é a melhor solução.
...
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Desabafo
Divulgar novos espaços de cultura e lazer, para quê? A população não está interessada. É preciso ter assuntos polêmicos para ter o que falar no cabeleireiro, no trabalho, durante o almoço, no supermercado...
É preciso sensacionalismo para exercitar a língua e atrofiar a mente!
João da Cruz e Sousa, o "seu valor só foi reconhecido postumamente", é o que dizem. No entanto, me questiono: Reconhecido por quem? Para muitos ele ainda é um desconhecido e dentre esses muitos estão seus conterrâneos.
O poeta está entre os maiores do Simbolismo universal porque Roger Bastide, sociólogo francês, um dos pioneiro dos estudos sobre os negros brasileiros (falo negros brasileiros porque soa melhor, para mim, do que afrodescendente, mas isso já é assunto pra outro post). Roger Bastide também foi professor de sociologia da Universidade de São Paulo entre os anos de 1938 e 1954. Bastide, de fato, reconheceu Cruz e Sousa, os brasileiros, infelizmente, não tiveram a mesma capacidade.
Há 30 anos, em Florianópolis, tentaram prestar uma primeira homenagem a Cruz e Sousa, deram ao antigo Palácio do Governo o seu nome: Palácio Cruz e Sousa, tombado como patrimônio histórico em 1984. Somente há 2 anos, os restos mortais do poeta, que estavam no Rio de Janeiro, chegaram aqui na Ilha. Aos seus 110 anos de morte, completos no ano passado, Cruz e Sousa deveria ter recebido de presente um memorial, no entanto, este só começou a ser construído na última segunda-feira, 26 de outubro.
No espaço, que será construído no terreno do Palácio Cruz e Sousa, deverá ter um local para abrigar a urna mortuária do poeta simbolista, junto a ela também terá uma sala de leitura, uma biblioteca de autores catarinenses e uma cafeteria, onde poderão acontecer lançamentos e saraus literários.
Conforme diz a FCC, "a intenção é que a obra seja um espaço para reverenciar a grandeza do poeta e que sirva, também, como espaço de lazer", mas se ficarmos esperando que os veículos de comunicação sensacionalistas nos avisem sobre a inauguração do espaço ou esperando que algumas pessoas se conscientizem sobre o valor literário da poesia simbolista de Cruz e Sousa e tenham, realmente, algum interesse pela cultura local em geral, iremos "mofar com a pomba na balaia".
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Samba como arte trágica
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Troca de nacionalidade, uma propaganda impossível - outras ET Ceteras...
Réplica - a Adorno
“A luta pelos direitos humanos abrange a luta por um estado de coisas em que todos possam ter acesso aos diferentes níveis da Cultura. A distinção entre Cultura Popular e Cultura Erudita não deve servir para justificar e manter uma separação iníqua, como se do ponto de vista cultural, a sociedade fosse dividida em esferas incomunicáveis dando lugar a dois tipos incomunicáveis de fruidores. Uma sociedade justa pressupõe o respeito aos direitos humanos e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável”.
Afora isso, tenho a acrescentar que o vale-cultura tem pouquíssimo -- nada, de fato -- a ver com qualquer suspeita de que o trabalhador não saiba gastar seu dinheiro: ele nos diz mais é sobre o fato de que não cabe à política definir qual tipo de produção é cultura e deve, portanto, ser subsidiada pelo governo. O vale-cultura restitui ao povo seu direito de escolha sobre o investimento cultural, antes de o tomar.
Opa, a discussão neste espaço requer reflexão sobre a ervilha. Pois bem, nesta ilha um número considerável de suas poucas produções culturais são disponibilizadas ao público gratuitamente ou a preços bastante acessíveis -- a exemplo da última temporada de peças gratuitas no Teatro da UFSC ou das exposições a 2 reais no Victor Meirelles. Isso não garante público, nem o vale-cultura o garantirá. O vale-cultura só garantirá o direito e, com o tempo, de repente, o público não despossuído de seu direito inalienável poderá vir a fazer questão de fazer uso dele.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Et cetera...
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Privilégio
Apresento-vos meu privilégio.
Morar na parte continental da cidade (porque Florianópolis não é feita só de ilha – que isso já sirva ao leitor desavisado) tem suas vantagens. A minha é poder atravessar a ponte todos os dias e assim observar a rica paisagem transitória do adentrar a ilha, na ida, e do afastar-se dela, na volta. Junta-se a essa travessia todo o resto do trajeto que observo (agora já inserida na ilha) via beira mar ou baía sul para chegar à universidade. Por mais que eu trafegue, rotineiramente, pelos mesmos lugares, a visão que tenho através da janela hoje é sempre diferente da que tive ontem. É essa a riqueza da qual não abro mão. A vida que não descuido a mover-se lá fora me fascina. Se trago um livro para ocupar o tempo (o motorista que se encarregue do resto), divido meu olhar entre as linhas fixas e simétricas do papel e a paisagem corrente e improvisada da janela. Cada dia é singular. As nuvens se refletem no mar de maneira diferente, os passantes nas ruas não são sempre os mesmos, os outdoors se modificam, os moradores embaixo da ponte se revezam (simpatizei com o inquilino da vez, que entre seus pertences, conserva um robusto urso panda de pelúcia posto a olhar, incessantemente, a paisagem entre pontes), as pequenas moradas que contornam os morros parecem cada vez mais numerosas, os casais à beira mar brigam e fazem as pazes, as árvores no local mudam de humor com freqüência, o mar é vasto e sempre desconhecido, e uma centena de habitantes insulares que percebo a cada ida ignora meus olhares. Até o trânsito (cada vez mais caótico nessa ilhota) e os semáforos podem ser positivos se encarados nesse contexto: sobra-me mais tempo para a contemplação. Penso que não abdicaria tão fácil dessa minha excursão diária. Penso também que testemunhar toda essa multiplicidade, com seus feitos, enfeites e defeitos, e poder encontrar-me dentro dela, é atividade sublime que se faz necessária. Somo dias, muitos dias, percorrendo o mesmo trajeto – e não canso nunca.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
O vale-cultura e o salário dos professores.
Enquanto isso na ilha subtropical é lançado um edital para contratação de professores temporários pouco tempo depois do edital para funcionários efetivos. Ou seja, a prefeitura tem certeza que não vai cobrir todas as vagas com o concurso, por não abrir vagas suficientes e por pagar apenas R$1800,00 para um doutor, e que vai precisar de genéricos pela metade do preço.
No país de muita saúva e pouca saúde nada melhor que educar mal e depois enfiar um vale-cultura, Paulo Coelho que o diga.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
outras sanitas
Enfim, lá não havia avisos como "não mije nas paredes" ou "mije no chão" (quem sabe até um "aproveite!")
Em outro choque cultural, uma viagem de grupo para um país hermano, minha hospedagem ostentava avisos no banheiro quase redecorando-o: "não jogue nenhum papel na sanita" e "antes de sair verifique se a água do reservatório não continua vazando, evite desperdício".
O detalhe é que o local estava quase sempre inundado e isso não parecia afetar o staff.
E por que se sente mal, se este é um procedimento normal no local? É contra os princípios da vida? Certamente é contra os ensinamentos do dia corrente.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
A anistia e o vaso sanitário.
Existem outros problemas além da questão banheirífera, a taxa de desemprego é altíssima, existem mais casas de câmbio do que indústrias (a erva-mate vem do Brasil), e os caudilhos de cabelo penteado no estilo de galãs de novela mexicana e com sobrenomes que temperam a colonização espanhola com algo britânico continuam tentando o poder. Na esfera cultural os uruguaios ressaltam como seus o tango e o carnaval, infelizmente, identificados internacionalmente com os vizinhos grandes Argentina e Brasil.
Apesar do clima decadente, ou animados por ele, os uruguaios estão prestes a tomar uma decisão que pode ser exemplar para os países vizinhos. Votarão no mesmo dia da eleição presidencial a derrubada da lei de caducidad, ou seja, vão anular a anistia e julgar seus militares raivosos. A outra lição que podemos tirar do Uruguai è sanitária e serve para Florianópolis, se queremos uma cidade turística podemos começar construindo banheiros.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Water Falls
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Fado Subtropical
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal”
Esses versos servem de refrão para a música Fado Tropical, parte da trilha sonora da peça Calabar: o elogio da traição, escrita por Chico Buarque e Ruy Guerra. A peça é ambientada por volta de 1632, época do Brasil colonial.
Quero ler a atual Florianópolis com a incidência desses versos, ou com a incidência do que eles sugerem. Justifica minha intenção a similaridade situacional: na época retratada na música de Chico, ainda não havia a noção de povo brasileiro, bem como agora não há a noção de povo florianopolitano. Ainda assim havia um projeto de nação, assim como agora há um projeto de cidade, ou melhor, um conjunto de intenções, o que se idealiza para o local que se habita. Em ambos os casos, como é bem retratado pela canção, essa situação de pertencer e amar uma terra sem contudo identificar-se com ela gera experiências esquizofrênicas.
Cresce a heterogeneidade da população que aqui reside e os “nativos” (não os tupi-guaranis, os açorianos, é claro) são cada vez mais marginalizados, forçados a permanecerem em seus redutos nas freguesias da ilha, vez por outra visitados, expostos como exemplares de nativos, como excertos da original , da autêntica Florianópolis.
Concentram-se na ilha desejos que são, por fim, esquizofrênicos: o de que ela seja reduto paradisíaco, refúgio da civilização, mas que também abrigue as necessidades múltiplas, metropolitanas, cosmopolitas dos que aqui aportam. Assim, o movimento que vem de variados centros para estas margens busca quase que um refúgio rural—e encontra. Mas a placa estrangeira buzina para a demora na partida ao sinal verde e, honestamente, é um absurdo não haver sequer um hortifruti 24hs. A cidade está no século passado. E a gente está de acordo.
domingo, 11 de outubro de 2009
As nossas pontes
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Oscilações
(Tr)Ilhas
Faz parte do dia-a-dia de todos que moram aqui perambular pela Florianópolis urbana, cinzenta. Cinzenta do asfalto e da fumaça dos veículos congestionados numa “geral” por aí. Então, por quê não se aventurar, vez ou outra, por caminhos onde o cinza dá lugar ao verde? Aquele verde que vemos nos morros que permeiam a vista da cidade, que parecem tão distantes da nossa realidade “concreta”. Caminhos verdes que não te levam a lugar específico algum, apenas trilham entre as árvores para chegar a um lugar com mais árvores.
Conhecer essa Florianópolis verdejante servirá de alívio para essa realidade constituída por um crescente amontoado de prédios. Então, aproveite com moderação, mas não demore; pois é por tempo (i)limitado.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Enquanto isso...
Mas é preciso seguir, porque as pessoas querem chegar.
Enquanto isso...
Na praça XV, a velha figueira, apoiada sobre suportes metálicos, continua frondosa oferecendo sua sombra aos passantes e recebendo casais de namorados, aposentados despreocupados, turistas encantados.
Em um bairro da cidade um shopping é assaltado, alguém perde o ônibus, a criança é deixada pela mãe na creche, a moça vai de bicicleta para a faculdade.
Todos continuam indo porque precisam chegar.
Enquanto isso...
Os Guarapuvus florescem colorindo em tons de amarelo e rosa a mata Atlântica e as Laelias Purpuratas desabrocham esplêndidas no interior da Ilha.
Mais um dia se esvai e a pesca não está boa para João, Maria trabalha para aumentar a sua produção de renda, um mendigo come o último pão amanhecido e mais um cãozinho abandonado é acolhido por um passante solitário.
Eles acreditam que vão chegar.
Enquanto isso...
O Martim-Pescador-Verde dá um mergulho profundo na Lagoa da Conceição e captura a sua última refeição do dia.
Já é noite na Grande Florianópolis. Todos estão cansados, um repouso é necessário para recuperar as energias e encarar mais uma semana chuvosa com forças para que todos possam, um dia, chegar.
Chegar...
Chegar aonde?
sábado, 3 de outubro de 2009
Sotaque
Mantendo minha língua intacta
Derramei sobre o outro
Minhas expressões idiomáticas
Como que para afirmar uma identidade
Como que para resguardar uma origem
Me agarro a sons, sentidos, signos
Demarco um território
Ao menos linguístico
E na fala me reconheces
Natural de Florianópolis
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Transporte coletivo
Florianópolis é assim: de tão pequenina como ervilha verde, os caminhos se transportam e se cruzam em noites quaisquer.