quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Acontecimento

"O SARAU BOCA DE CENA é um evento de integração cultural, criado por Juliana Impaléa e Flávia Tomaz, que busca perceber, promover a interação e divulgar o produto artístico desenvolvido nas diversas áreas de atuação (música, teatro, poesia, dança, artes plásticas e visuais) na UFSC e em Florianópolis."

No último dia 20, o Sarau lançou a sua mais recente Antologia, que possui mais de 40 poemas escritos por poetas da UFSC e de Floripa.
O evento se realizou no Centro de Comunicação e Expressão da UFSC, com muita música, poesia, dança e outras atrações, uma delas, o curta com o título Guiness Records - O maior Ponto de Ônibus do Mundo, de Chico Caprário e Eliézer Kuhn (Grupo Expressão Sarcástica), me chamou a atenção pela sua irreverência. Ele traz aquela ironia que nós, florianopolitanos, estamos acostumados a ouvir e a fazer quando o assunto diz respeito às: "GRANDIOSAS OBRAS" DE FLORIANÓPOLIS.
Confira!

http://www.youtube.com/watch?v=yEL_uyHmFNs


Referências: Sarau Boca de Cena
http://www.saraubocadecena.com/index.html

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Geisy e o vazio

Uma blondie metida em trajes sumários: existe imagem mais desgastada do que essa? Como Deus em outros tempos, ela está em todos os lugares, inclusive nas igrejas, que dirá em universidades de quinta categoria. Reencontrá-la, por isso, deveria provocar tédio ou, antes, aquela olímpica indiferença que, segundo Nelson Rodrigues, o crioulo do Grapete distribuía ao desfile incessante de corpos seminus nas praias cariocas. Daí a surpresa geral diante do agora célebre episódio da Uniban. O que, afinal, motivou a insuspeitada reação dos colegas de Geisy Arruda? Por que hostilizaram aquela que deveria ser vista como a mais banal das aparições?
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Até onde pude acompanhar a repercussão do caso, duas vertentes de explicação prevaleceram. A primeira, capitaneada por especialistas convocados pelos grandes veículos de informação, atribui o ocorrido a personalidades psicopatas e criminogênicas cuja perversidade, em um processo que caberia à psicologia das massas descrever, teria contagiado indivíduos normais e acima de qualquer suspeita. Já a segunda vertente de explicações toma a reação dos alunos da Uniban como sinal de que, entre os jovens, uma virada conservadora se anuncia.

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Nada disso, contudo, me parece convincente. Não digo que essas suposições não tenham lá sua lógica. O raciocínio que as anima faz sentido: se a reação dos alunos foi muito maior do que a esperada, é porque algo igualmente grandioso está por trás dessa reação. De minha parte, prefiro, entretanto, seguir a trilha inversa, tomando o excesso, não como efeito de uma causa igualmente espetacular, mas, antes, como fruto de uma espécie de anti-causa: uma falta, um vazio. Assim, em vez de, por exemplo, considerar que uma inflexão à direita está em curso, eu tenderia a dizer que o referencial da moralidade está irremediavelmente perdido, e o que exaspera os alunos da Uniban é precisamente a impossibilidade de sentir uma repulsa genuína pela figura de Geisy. Trocando em miúdos, a reação daqueles rapazes e moças é, na verdade, uma tentativa inútil e desesperada – por isso, necessariamente excessiva – de recompor um código de conduta e, mais que isso, de experimentar os sentimentos que a adesão orgânica a esse código é capaz de gerar.

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Suspeito, aliás, que essa nostalgia da moralidade perdida explique a própria proposição da hipótese de que uma virada conservadora esteja acontecendo. Não importa que quem a enuncie tome-a como um dado a ser comemorado ou lamentado: os dois lados sonham em voltar a experimentar algo que já não é mais possível experimentar, a saber, a força de um sentimento autêntico de repugnância moral ou, no caso dos revolucionários, um sentimento autêntico de repugnância à repugnância moral (observemos, de resto, que a grandiloqüência da hipótese da virada à direita assim como a paixão com que “conservadores” e “progressistas” discutem o caso Geisy carregam algo da exasperação dos alunos da Uniban).

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O que eu disse em relação à moralidade deve ser estendido a todos os códigos de conduta que definem o campo do que se costuma chamar de normalidade. Talvez seja por isso – isto é, por uma espécie de nostalgia dos padrões perdidos de normalidade – que psiquiatras e criminologistas queiram referir o episódio da Uniban à ação de psicopatas: maneira de devolver o mundo às categorias que, um dia, puderam descrevê-lo, mas que, possivelmente, já não servem mais.

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Penso que Geisy Arruda, mais do que outras mulheres, mais do que outras blondies, consegue encarnar o vazio exasperante que substituiu os códigos de moralidade e normalidade. Esse é, se quiserem, o seu enigmático talento. Esse, aliás, é o talento geral das celebridades contemporâneas. A celebridade, hoje, é uma espécie de nobreza que prescinde de virtudes excepcionais em algum sentido habitual da palavra. Ao contrário, os chamados “famosos” dão-nos a sensação de que estão lá simplesmente por terem sido escolhidos por Deus, sem ter que dar nada em troca. Tudo se passa como se expressassem uma celebridade pura, vinda do fato de que o Outro 0s ama mais do que a nós, e ponto final. Mas não é assim. Essas pessoas, como Geisy, têm, sim, um talento excepcional: esse que, insisto, consiste em encarnar, melhor do que nós, o vazio.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A estética da precariedade

Há poucos dias recebi um marca-página em que figurava um prédio abandonado e cinzento em vertiginosa linha de janelas ao viés do olhar. Na parte de trás estava escrita uma mensagem de apoio à arte feita pela livraria que o confeccionou: o marca-página tinha um propósito estético. Para remarcar minha falta de criatividade, como já dita posts atrás, assinalo outro objeto que não escapou aos olhos de nossa fotógrafa: os muros desenhados e grafitados. Mas não se trata aqui das mensagens pichadas, senão daqueles grafites que se destinam, de alguma maneira, à arte, ou assim o pretendem. Coloco-os lado a lado pois são manifestações do mesmo fenômeno: uma estética da precariedade, ou da efemeridade. Ao reproduzir o prédio em ruínas, ou as cores chocantes e desordenadas aparentadas às placas e aos outdoors, esta estética é a ilustração acabada daquilo que a destrói. Ela afirma as forças que a levam diretamente ao fracasso estético. Movimentos como o dos surrealistas, dadaistas e de seus sectários, os donos dos ismos do século XX, tentaram e tentam evitar este fracasso ao buscar a agressão, ou seja afirmam-no por via apofática. Esta tendência, tanto a da agressão quanto a da reprodução, se encontra também nas ditas instalações, nas grandes estupidificações da arte moderna, que fazem as graças de tantos intelectuais que não sabem outra coisa senão babar. A ironia se torna hiperbólica quando os defensores desta dita arte se colocam contra o tal sistema, e se vêem como revolucionários.
Não é difícil imaginar porque o fascismo não encontrou nenhuma dificuldade em se apropriar dessa chamada arte.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Além trópicos

Aproveitando a discussão sobre muros que a Gis levantou alguns posts atrás, estendo essa questão para tratar de uma outra função a que se prestam os muros – no caso, os muros físicos (e aqui também entram as paredes, que se oferecem aos montes nas ruas).
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Esses e estas são silêncios brancos e vulneráveis. Silêncios prontos para cederem suas superfícies a vozes modeladas com tinta ou spray. Estas, por sua vez, buscam ser ouvidas pelos olhos do cidadão que passa, esteja ele atento ou não. Daí que encontramos, pelas ruas de nossa cidade, ocupando os muros e paredes de propriedade particular ou de ninguém, imagens criativas em graffitti, mensagens anônimas berradas em letras garrafais, insultos de mau gosto, e até mesmo gritos de cunho político e social.
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É nestes últimos que quero focar aqui. Alguns deles têm me chamado curiosamente a atenção, estancados como que com braços cruzados por onde passo. Entre as palavras registradas nos muros, em lugares prováveis e improváveis, há desde manifestos a questões de importância local, como “PASSE LIVRE” ou “2,80 NÃO” (referentes à tarifa do transporte coletivo da cidade - considerada a mais cara do Brasil), a desabafos de ordem global. Estes são interessantes. Muitos, com tinta fresca, tratam de questões políticas internacionais, como “HONDURAS RESISTE”, “HONDURAS SIM, GOLPE NÃO” ou “FORA BASES IANQUES NA COLÔMBIA”. Outros, já com a tinta a descascar e com a voz rouca, proclamam “VIVA CUBA” ou “FORA BUSH” (este último, por fim, perdeu a voz; mas ainda não encontrei nenhum “VIVA/FORA OBAMA”...). Me pergunto quem é que vem, na calada da noite, espalhar estes gritos surdos pelas ruas. Me pergunto também se estes conseguem encontrar, de fato, algum destino. Embora sejam indícios de que há vida lá fora sendo notada aqui dentro, parecem vozes mirabolantes, no contexto dessa ilha. Vozes destoantes. Como um instrumento encostado que a banda nem pensa em tocar...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Acontecimentos [2]


Africanidades na Ilha

Já está circulando a programação do "II Diálogos Brasil África" que acontecerá durante a próxima semana no Largo da Alfândega - Centro de Florianópolis em comemoração ao dia da Consciência Negra.
Estão previstas para o evento mostras de dança, artes plásticas, artesanato, gastronomia, exposição de trabalhos desenvolvidos por ONG's e outras entidades sociais.

Queres saber mais sobre isso, quiridu?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Muros


No início desta semana fiz algo que, por motivos diversos, não estou mais acostumada a fazer: parar para assistir TV. Relutante, eu parei. Assisti a uma notícia sobre a homenagem feita em comemoração aos 20 anos da queda do Muro de Berlim.
Em frente à tela vi uma cena onde estavam várias pessoas, em Berlim, prestes a derrubar peças de dominó gigantes e coloridas que estavam enfileiradas. As peças caíram uma a uma para simbolizar a queda do Muro.
O que mais me chamou a atenção foi o fato daquelas pessoas estarem lá reunidas, dispostas à prestar uma bonita e simbólica homenagem. Elas comemoravam um fato histórico, mais do que isso, comemoravam um resgate da liberdade, da vida e do direito de ir e vir

Parei mais uma vez e me questionei:
Até que ponto reformulamos nossos pensamentos e atos diante da destruição de algo físico?
O que um muro representa e quais são as suas variações?
Meu pensamento parou na Ilha. Parou em nós.

Florianópolis tem muitos muros.
Não com as mesmas proporções políticas, físicas e psicológicas agregadas ao Muro de Berlim.
Mas aqui também temos muros que podem ser chamados de muros políticos, físicos e psicológicos que representam nossa cultura, nosso modo de ser, agir e pensar.
Há diversos muros que são construídos e reconstruídos a todo momento.
Muros físicos para tentarmos nos proteger da crescente violência da cidade,
Muros etnocêntricos que impossibilitam o conhecimento sobre o outro que nos visita ou vem para ficar,
Muros psicológicos para a preservação da nossa "identidade",
Muros políticos que nos impedem de saber o que estão planejando para nós, cidadãos de Florianópolis.

Há tantos outros muros...
E há mais questionamentos.

Criamos muros com intuito de derrubá-los depois ou queremos apenas delimitar nosso território?
Quanto um muro pode nos proteger e nos aprisionar?
E ainda, o que podemos chamar de nosso?

As pessoas continuam chegando à Ilha. Umas retornarão para as suas cidades, outras permanecerão aqui.
As pessoas não deixarão de ir e vir, os muros continuarão sendo construídos, destruídos e reconstruídos.
A Ilha no futuro poderá ser cercada por muros do movimento "Fora Haole" ou, talvez, quem sabe, ela terá mais pontes e o padrão de Jurerê Internacional.

Os muros não podem nos impedir de ver as pontes.


terça-feira, 10 de novembro de 2009

Acontecimentos

filme Sistema de Animação seguido de um especialíssimo show instrumental do Toucinho Trio

quarta-feira, 11 de novembro
gratuito
SESC Florianópolis
Trav. Siryaco Atherino, 100 - Prainha (48) 3229-2200







Elomar e Camerata em canções Menestrelescas, Árias e Antífonas

sexta-feira, 13 de novembro
R$20 inteira, R$10 meia
Teatro Álvaro de Carvalho
Rua Marechal Guilherme, 26 - Centro.




sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Réplica – a Antônio Cândido

Confundir cultura e estética com sociologia é moeda corrente, principalmente depois que os entendidos do materialismo histórico creram que um etrusco do século VII a.C. e um industrial do século XIX tivessem as mesmas motivações. E o paroxismo ocorre quando se trata de cultura popular. Aí, seus cultores – e agucemos os ouvidos quando se fala de cultores de alguma coisa – alardeiam a velha cantilena do direito inalienável que o ser humano tem de se expressar, em todos os níveis. Concordo que todos temos o direito da expressão. No entanto, expressão não é, por si só, arte. Para dirimir a confusão que o conceito enseja, volvemos nosso olhar ao sol helênico e nos lembremos de que, para ouvidos gregos, não existiam diferenças entre arte e técnica. Eis um começo para interpretar a arte, e os gregos, creio, sabiam do que se tratava. Não existe arte sem técnica, mas técnica somente também não é arte. A discussão que Adorno, no texto “Sobre a música popular”, propõe não é, propriamente, uma anteposição de dois níveis de cultura, mas como um determinado nível, como o entende Antônio Cândido, o popular, se defronta com a tradição. E antes que vós repliqueis com confundir tradição com conservadorismo, entendo tradição como o legado que nos deixaram outras idades: aquilo que de mais alto o gênio humano produziu. Ora, nada é tão inalienável a todo e qualquer ser humano quanto a tradição: este é o direito real. Portanto, para Antônio Cândido, as massas devem permanecer no seu nível de cultura, ou seja, que as massas fiquem com o seu funk e nunca saibam o que é Homero. Afinal, não estamos em uma democracia?

Humor involuntário na ilha

O Brasil é um país de grandes humoristas. Não falo dos gênios do Zorra Total nem de Ary Toledo. Os gênios brasileiros fazem humor sem querer, como dizia Golias Miranda. Aqueles que aprenderam esta valiosa lição deleitam-se na mediocridade diária do telejornal ou das propagandas eleitorais (especialmente dos candidatos a vereador). Neste tipo tão especial de humor, Florianópolis é uma mina de ouro. No DC do dia 3, um de nossos grandes mestres, Luiz Carlos Prates, soltou uma de suas "rápidas e rasteiras": "Aí está a raiz do problema, mães e pais que não querem admitir que são frouxos, que não controlam, não educam, não impõem limites, não restringem vontades, nada. Soltam os filhos, dão-lhes rédeas soltas. Depos choram, rogam pragas e ficam com cara de cãozinho que lambeu graxa...".
Genial. Infelizmente, o mal sempre é lembrado. O bem é tão difícil de ser reconhecido.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Deu(-se mal) no DC

Há algo pior do que a erudição vazia: é a falsa erudição vazia. Em artigo publicado no DC de domingo, a propósito de escrever mais um capítulo de seu interminável livro de ressentimentos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quis posar de leitor assíduo de Shakespeare. Deu-se mal: atribuiu a Hamlet uma frase que, na verdade, pertence a Polonius ("Há método nessa loucura"). O engano, se não é sinal de ignorância, pode ser visto como um muito freudiano ato falho de alguém que ainda pensa ser príncipe quando não passa de um conselheiro que, justamente por falar demais, é cada vez menos ouvido.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

a ilha em ato sonâmbulo


















enquanto
minhas
palavras
dormem...