terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Panis et circensis

Nos tempos em que vigoravam as antigas instituições romanas, com a austeridade e integridade que se deviam somente à tensão das conquistas e da ameaça, não havia jovem ou adulescens que não aspirasse à vida pública e a compor o senado. A administração da res publica era um ideal a seguir. Porém, o bravio sangue romano ardia também pelos seus heróis, seus imperatores, e, consequentemente, dependia de sua integridade. Por isso sucumbiu. Um povo para o qual a política perdeu todo o sentido está pronto para suportar qualquer tirania, desde que se lhe dêem os devidos pão e circo; ou, futebol e cerveja.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Feliz Natal

Um Feliz Natal para todos!!
Os Pedidos para Papai Noel, por Arnaldo Jabor:
Natal, Natal, bimbilham os sinos, sempre quis usar essa frase, pois amanhã, apesar do Pólo Norte derretendo, dos ursos brancos se devorando de fome, Papai Noel vai chegar! Se bem que em Brasília ele já chegou ou Arruda não foi um Papai Noel para seus meninos? Mas o que posso escrever de verdade para o bom velhinho?
Querido Papai Noel,
Por favor, eu sou um bom sujeito.

Dai-me a felicidade de ver um só, basta um parlamentar na cadeia, condenado pelo STF;

Dai-nos a aprovação da lei de execuções penais e um movimento popular pela reforma do judiciário;

Dai-me uma pele de rinoceronte para resistir aos terríveis casos de criancinhas brutalizadas, tantas crianças foram atacadas, Papai Noel. Do João Hélio, passando por Isabela até esse menino das agulhas. Por que, Papai Noel?;

Dai-me a coragem dos canalhas para fazer o bem, em vez das vacilações covardes de muitos homens de bem;

Dai um pouco mais de memória ao povo mas se eu for irresistivelmente atraído pelo mal, diante do sucesso de tantos impunes, dai-me um panetonezinho daqueles do Arrudinha cheio de euros;

Dai-me um terno de teflon igual ao do Sarney onde nada gruda;

Dai-me advogados tão bons como os do Maluf e do Daniel Dantas. Eu quero meias calças grandes, cuecas reforçadas, hábeas corpus preventivos;

Dai-me a capacidade de mentir sem tremores,
Dai-me lágrimas de crocodilo e abraços de tamanduá em inimigos;
Dai-me o tempo e a paciência, que eu conquistarei o esquecimento;

Dai-me a cara-de-pau de tantos impunes vitoriosos, dai-me sorrisos cínicos. Posso precisar, Papai Noel, quem sabe?


Fonte: http://colunas.ig.globo.com/arnaldojabor/2009/12/24/os-pedidos-para-papai-noel/

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Quantas ilhas temos?

festa esquisita
com gente estranha

como todos se parecem de um mesmo lugar. como todos frequentam a mesma loja de uma grife inexistente. E de onde surgem que nunca os vi. Por andamos nós?

Há uma separação de quem pensa, quem produz o pensamento, quem comercializa o pensamento, quem assiste ao pensamento, de quem consome, e? e os outros?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sentimento Insular [Abordagem criativa de "Sentimento dum Ocidental" de Cesário Verde]

Numa rua escura, me perco. Numa rua clara, me encontro. Numa ponte grande, me deixo. Numa noite negra, me escondo. Uma moça branca me estende as mãos. Uma moça preta me oferece o pão. A pensar me pego, olhando às ruas. A sonhar espero evitar as rugas. Sinto-me em profundo isolamento. Sinto-me em gigante envolvimento. Ando pelas praças perscrutando seres que me pareçam iguais. Vejo na paisagem viva uns e outros normais. Normais me parecem à distância, com sua simplicidade e insignificância. Porém, ao formarem o todo; a massa; o povo – vejam só que maravilha! Eis que surge algo novo! Pois já não são mais simples indivíduos o que vejo abismado. São pedaços de um engenho que de perto não se vê formado. Uma ilha à toa, perdida no mar! Onde se acha de fato beleza sem par. Mas de fato a beleza que desejo olhar, não se trata daquela que circunda o mar. É na calçada que demoro meus olhos. Na calçada onde passa o mendigo. Onde dorme o mendigo. Onde come o mendigo. Na calçada fico em transe, dou vez à permutabilidade. Deixo-me macular pela miséria, deixo-me infectar pela sujeira. Para que sinta ao menos uma vez que não sou ilha. Que sou continental. Ocidental. A verdade é que não sei ao certo onde vou parar. Sei que ilha voltarei a me tornar. E nesse ínterim tento sugar alguma essência, e dessa experiência retorno embriagado. E antes que a lucidez se aposse outra vez de minhas carnes e de meu gênio, aproveito para sentir-me imergido nessa massa, nesse povo, nessa ordem. A ordem das coisas que são quando não são sozinhas. A ordem que surge da desordem. É ela quem regula as criaturas provenientes dessa região: a calçada. É esse movimento de conjunto que me faz sentir vontade de participar da vida e ao mesmo tempo me encontrar à margem. Insularizado. Eu não rezo. Não participo de religiões. Entretanto, não desprezo àqueles que vão aos sermões. Vejo nisso uma virtude, uma coisa a se invejar. Deus me guarde, Deus me ajude, pois só sei Nele não acreditar.