quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Indefinições

Definições são sempre abismos, ou melhor, abismais. Ao dizer que esta cidade é uma ilha, lhe imputamos um signo, que tem uma definição. O signo aponta para um lugar. A construção do signo é a ilha e a ilha é Florianópolis, logo, a cidade é um signo. Um signo existe para algo, ou melhor, alguém – já que não sabemos se os outros animais, além de nós, homines sapientes, significam – que lhe dá sentido ou expressão, ou então, o constrói. Estamos, portanto, em um grande signo perdido no meio do mar. O que isto por fim significa? Que o único sentido possível é o anteparo insignificante do signo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Exilha

Eu deveria ser preso por falsidade ideológica. É que, em minha carteira de identidade, está escrito que sou paulistano, o que eu e meu psicanalista sabemos ser deslavada mentira. São Paulo – ou ao menos a parte realmente conhecida e valorizada da cidade – era uma figura longínqua, cujo skyline eu via do ponto mais alto da rua em que morava, na Vila Gumercindo. Não, eu não nasci em São Paulo, mas na Vila Gumercindo.
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Ao contrário do que informam meus biógrafos oficiais, tampouco vivi a segunda metade da minha infância e a adolescência no Rio de Janeiro. Não que, nessa época, à semelhança do que acontecera em São Paulo, eu tenha residido em algum subúrbio provinciano, irremediavelmente distante das paisagens de cartão-postal da Cidade Maravilhosa. Pelo contrário: nosso apartamento ficava no Leblon, no coração da Zona Sul da cidade. O problema é que os valores – e sobretudo a moralidade estrita e sufocante – da Vila Gumercindo continuaram a arder no meu peito. Minha alma nunca pertenceu ao Rio. Meu corpo, muito menos.
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Foi a impossibilidade de conviver com essa tensão permanente entre a Vila Gumercindo e o Leblon que me fez procurar abrigo nesta Ilha. O que eu buscava, hoje sei, era a hiperprovíncia: pedacinho de terra perdido no mar. O que eu buscava era uma espécie de Vila Gumercindo sem a imagem ameaçadora do skyline de São Paulo no horizonte. Ledo engano. É verdade que Floripa é, como eu desejava, mais conservadora do que a Vila Gumercindo. Mas, ao mesmo tempo, paradoxalmente, é mais fashion do que o Leblon: indecidivelmente pré- e pós-moderna. Ai de mim.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Inauguração

Fiquei encarregada por mim mesma, e depois ganhei o aceite do grupo, de começar o que se espera ser um grande número de postagens, de visões, de impressões, de expressões, de gritos sobre ou com Florianópolis. Isso com toda a insularidade que se impregna nos atos e na sensibilidade de quem aqui fica exposto. Este projeto não é um projeto pessoal. É o projeto de um grupo de pessoas diversas, que em muito não se entende. Mas é um grupo que tem a vontade de viver e saber que vive esta ilha de forma consciente.
O blog da subtrópicos, irmão do caderno cultural, funcionará de segunda a sexta, nos deixando nos iludirmos aos finais de semana, e estará a serviço de uma perspectiva possível no momento de postagem. Abrigará assuntos diversos. Não deve sair muito da circunferência dos nossos umbigos. Porém são umbigos múltiplos. Espalhados nos interesses. Controversos às formações, ao ambiente, à continuidade. Assuntos que podem parar nas pessoas, nos cachorros, em movimentos sociais, nas ações de petróleo, na inexistência de pesos nas casas de câmbio, em um espetáculo teatral, um grande show de garagem, um belo musical em um clube, etc...
E assim, apenas esperamos dizer. Com um pouco de ambição movimentar palavras, quem sabe de outros.