sexta-feira, 28 de maio de 2010
Coleção
quinta-feira, 27 de maio de 2010
A pesada consciência do pós-marxismo.
Segunda-feira caminhando tranquilamente da casa de um amigo em direção a minha casa, eis que encontro a manifestação no meio do caminho. Engoli seco e passei olhando com o cantinho do olho. (contradição n4).
"Passam os dias, permanece a contradição."
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Fato verídico
terça-feira, 25 de maio de 2010
Vontade
na adolescência, a vontade era de encarar o mundo;
na fase adulta ela tem vontade de abraçar o mundo.
Baixinho, ela implora ao tempo:
- Desta vez, por favor, não seja tão fugaz.
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades..."
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Ecologia
Quimeras
Enquanto a democracia diz "tu podes, se tu deves", o liberalismo diz "se tu queres, tu podes". E é desse odioso hymeneu que nasceu a política moderna; aliás, um eufemismo para briga de comadres.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Musicologia
terça-feira, 18 de maio de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Colonização
eivada de sangue
e de ti,
prosperam potosís de alegria.
quanta iniquidade eu já não fiz?
quantos corpos de negros escravos não moí
para fartar as naves imensas
da ganância de ser feliz?
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Alívio copernicano
- Bom dia, disse um senhor.
- Bom dia, respondi.
- Bom dia, disse de novo.
- Bom dia, respondi.
- Sim, porque é dia. Não existe “boa tarde”, muito menos “boa noite”. Se tu estiveres na rua a uma da manhã e tu encontrares alguém, tu dirás “bom dia” ou “boa noite”?
- Boa pergunta. O que eu deveria dizer?
- Bom dia. Não existe noite. A terra é redonda. O que existe é sombra. Mas, tenho que ir. Devagar, minhas pernas cansam rápido. Bom dia.
- Bom dia.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Paulinho da Viola
domingo, 9 de maio de 2010
Qualquer coisa I
Quando a aeromoça de uma viagem de avião – a única que fiz que teve janta – perguntava quase gritando com o sotaque canino dos anglo-saxões “beef or pasta!?”, a escolha era bem mais fácil, era imediata, por impulso, um segundo fazia diferença entre receber a amorfa refeição ou causar a fúria da ex-sex-symbol sexagenária. Eu, rapidamente, percebi qual dos males era o menor.
Aqui no blog a atonicidade frente ao escolher entre infinitos temas é agravada, ainda, pela falta de limite temporal objetivo – claro existe a obrigação semanal de escrever aqui, mas qualquer desculpa é válida para que nos furtemos dela. Esse post que faço agora, está 5 dias atrasado.
De qualquer coisa para qualquer coisa, entretanto, há uma diferença de interpretação. Claro, também, acredito perder o desafio, aquele de escrever sobre qualquer coisa. Porém, tal como quem aceita brincar de associação livre, acredito que ganho aquele outro desafio: o de enunciar a mim mesmo. Ou melhor, adquiro o desafio de suportar a perenidade do texto que escrevo aqui que, ao contrário da fala na associação livre que acaba no exato momento que surge, pode restar eternamente.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
SAUDADE
Viajar é uma experiência fascinante. Sobretudo, quando no local para o qual você viaja, existem pessoas que falam uma língua irmã à sua. Palavrinhas mágicas vão sendo aprendidas e algumas outras nem se precisam aprender, são iguais.
Há na experiência de conhecer uma nova cultura, um novo povo, um novo idioma, inúmeras vantagens. Uma delas, seguramente, é o aumento da possibilidade de significar as coisas no/do mundo. E quando as coisas do mundo são, especialmente, sentimentos, essa experiência torna-se ainda mais rica.
Maneiras distintas de mensurar o tempo também fazem parte dessa grande experiência. Como alguém pode pensar ou medir o tempo de outra maneira que não aquela que minha língua expressa? Aquela que sempre existiu pra mim? Perco tempo com essas questões...
Afinal, que é o tempo?
A língua que mede aquele tempo, certamente, não poderia originar uma palavra que dá conta do sentimento de querer que este tempo corra depressa.
Ergonomia, Horácio!
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Qualquer coisa
“Escreva sobre qualquer coisa”, foi o que me responderam, depois de feita a temível pergunta “Sobre o que escrever?”. Tomo a resposta ao calcanhar da letra e aceito o desafio de escrever sobre “qualquer coisa”. Primeiro, é preciso suspender qualquer possibilidade metalingüística, pelo simples fato de que não há tal possibilidade. Deus talvez possa falar da língua dos homens, mas, nós mortais temos apenas uma linguagem. Falar metalinguisticamente é falar tautologicamente, i. e. dentro de um mesmo sistema, pois seriam necessárias novas referências para sustentar novos conceitos, e novos conceitos não dispensam a linguagem. Uma formalização não traduzida para uma linguagem ordinária continua a ser apenas uma série de símbolos autológicos: são signo e referência. “Qualquer coisa” é qualquer objeto, mas não é um objeto qualquer. Sua indefinição repousa justamente nos limites do que não pode ser definido, portanto seu limite é a definição. Mas não há termo a esta definição. Abandonamos nossa teoria? Absolutamente não; desde que o termo seja fim, feche uma totalidade. Assim, “qualquer coisa” continua a ser qualquer coisa. Mas, o que? Do que falamos até agora? “Qualquer coisa” é alguma coisa. Sim, mas como se pode falar de alguma coisa indefinida, ou antes, como se pode predicar indefinição de alguma coisa? A indefinição é a negação de uma definição, portanto de alguma coisa. Não pode ser isto ou aquilo outro, mas uma indefinição. Falamos do que não se conhece? Mas como se pode falar do que não se conhece? Se a linguagem permite que se cometa tal absurdo lógico, então existe outros interpostos pelos quais passa que não apenas signo e referência, já que se fala de algo pro qual não há referência. Ou, acaso pode-se apontar para "qualquer coisa"? Não, pois mesmo que se pudesse, ao apontar para "qualquer coisa", “qualquer coisa” deixa de ser o que é para ser qualquer coisa apontada. O ato de apontar dá um contorno para “qualquer coisa”. Há, no entanto, um uso de “qualquer coisa” que talvez possa lançar objeções ao que se disse: quando alguém diz, “Escolha alguma coisa”, “Mas o que?”, “Bem, qualquer coisa!” Nesse caso “qualquer coisa” se define por alguma coisa de um conjunto de coisas que estão em um lugar, e este é o máximo a que definição pode chegar. Há um termo para ela. Como se vê, este não é o caso. Se a linguagem permite falar de algo pro qual não há referência, então não faz sentido falar em termos metalingüísticos, pois ela, por si só, já ultrapassa o âmbito dos objetos; visto que a linguagem não é um simples apontar para eles, como queriam os gênios inventores do mundo de Gulliver, falar metalingüisticamente é fazer meta-metalinguagem; é objetificar algo que já é capaz de criar objetos, e que, por isso, possibilita que haja metalinguagem. Entretanto, do que fala a metalinguagem? Tudo se torna um imenso jogo de espelhos. Não se pode falar de um objeto objetivamente."Qualquer coisa" é um objeto da linguagem, mas não do mundo. Só podemos falar de “qualquer coisa”, porque não temos o mundo. E perco o desafio, se desde o início (não) falei de nada.