segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Além trópicos

Aproveitando a discussão sobre muros que a Gis levantou alguns posts atrás, estendo essa questão para tratar de uma outra função a que se prestam os muros – no caso, os muros físicos (e aqui também entram as paredes, que se oferecem aos montes nas ruas).
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Esses e estas são silêncios brancos e vulneráveis. Silêncios prontos para cederem suas superfícies a vozes modeladas com tinta ou spray. Estas, por sua vez, buscam ser ouvidas pelos olhos do cidadão que passa, esteja ele atento ou não. Daí que encontramos, pelas ruas de nossa cidade, ocupando os muros e paredes de propriedade particular ou de ninguém, imagens criativas em graffitti, mensagens anônimas berradas em letras garrafais, insultos de mau gosto, e até mesmo gritos de cunho político e social.
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É nestes últimos que quero focar aqui. Alguns deles têm me chamado curiosamente a atenção, estancados como que com braços cruzados por onde passo. Entre as palavras registradas nos muros, em lugares prováveis e improváveis, há desde manifestos a questões de importância local, como “PASSE LIVRE” ou “2,80 NÃO” (referentes à tarifa do transporte coletivo da cidade - considerada a mais cara do Brasil), a desabafos de ordem global. Estes são interessantes. Muitos, com tinta fresca, tratam de questões políticas internacionais, como “HONDURAS RESISTE”, “HONDURAS SIM, GOLPE NÃO” ou “FORA BASES IANQUES NA COLÔMBIA”. Outros, já com a tinta a descascar e com a voz rouca, proclamam “VIVA CUBA” ou “FORA BUSH” (este último, por fim, perdeu a voz; mas ainda não encontrei nenhum “VIVA/FORA OBAMA”...). Me pergunto quem é que vem, na calada da noite, espalhar estes gritos surdos pelas ruas. Me pergunto também se estes conseguem encontrar, de fato, algum destino. Embora sejam indícios de que há vida lá fora sendo notada aqui dentro, parecem vozes mirabolantes, no contexto dessa ilha. Vozes destoantes. Como um instrumento encostado que a banda nem pensa em tocar...

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