sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Réplica – a Antônio Cândido

Confundir cultura e estética com sociologia é moeda corrente, principalmente depois que os entendidos do materialismo histórico creram que um etrusco do século VII a.C. e um industrial do século XIX tivessem as mesmas motivações. E o paroxismo ocorre quando se trata de cultura popular. Aí, seus cultores – e agucemos os ouvidos quando se fala de cultores de alguma coisa – alardeiam a velha cantilena do direito inalienável que o ser humano tem de se expressar, em todos os níveis. Concordo que todos temos o direito da expressão. No entanto, expressão não é, por si só, arte. Para dirimir a confusão que o conceito enseja, volvemos nosso olhar ao sol helênico e nos lembremos de que, para ouvidos gregos, não existiam diferenças entre arte e técnica. Eis um começo para interpretar a arte, e os gregos, creio, sabiam do que se tratava. Não existe arte sem técnica, mas técnica somente também não é arte. A discussão que Adorno, no texto “Sobre a música popular”, propõe não é, propriamente, uma anteposição de dois níveis de cultura, mas como um determinado nível, como o entende Antônio Cândido, o popular, se defronta com a tradição. E antes que vós repliqueis com confundir tradição com conservadorismo, entendo tradição como o legado que nos deixaram outras idades: aquilo que de mais alto o gênio humano produziu. Ora, nada é tão inalienável a todo e qualquer ser humano quanto a tradição: este é o direito real. Portanto, para Antônio Cândido, as massas devem permanecer no seu nível de cultura, ou seja, que as massas fiquem com o seu funk e nunca saibam o que é Homero. Afinal, não estamos em uma democracia?

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