quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A estética da precariedade

Há poucos dias recebi um marca-página em que figurava um prédio abandonado e cinzento em vertiginosa linha de janelas ao viés do olhar. Na parte de trás estava escrita uma mensagem de apoio à arte feita pela livraria que o confeccionou: o marca-página tinha um propósito estético. Para remarcar minha falta de criatividade, como já dita posts atrás, assinalo outro objeto que não escapou aos olhos de nossa fotógrafa: os muros desenhados e grafitados. Mas não se trata aqui das mensagens pichadas, senão daqueles grafites que se destinam, de alguma maneira, à arte, ou assim o pretendem. Coloco-os lado a lado pois são manifestações do mesmo fenômeno: uma estética da precariedade, ou da efemeridade. Ao reproduzir o prédio em ruínas, ou as cores chocantes e desordenadas aparentadas às placas e aos outdoors, esta estética é a ilustração acabada daquilo que a destrói. Ela afirma as forças que a levam diretamente ao fracasso estético. Movimentos como o dos surrealistas, dadaistas e de seus sectários, os donos dos ismos do século XX, tentaram e tentam evitar este fracasso ao buscar a agressão, ou seja afirmam-no por via apofática. Esta tendência, tanto a da agressão quanto a da reprodução, se encontra também nas ditas instalações, nas grandes estupidificações da arte moderna, que fazem as graças de tantos intelectuais que não sabem outra coisa senão babar. A ironia se torna hiperbólica quando os defensores desta dita arte se colocam contra o tal sistema, e se vêem como revolucionários.
Não é difícil imaginar porque o fascismo não encontrou nenhuma dificuldade em se apropriar dessa chamada arte.

4 comentários:

  1. Caro Cão Raivoso: já leste "Argumentação contra a morte da arte", do Ferreira Gullar? Vais gostar. Acho que há um exemplar na vigorosa Biblioteca José Luís Meurer. Au, au, au.

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  2. Dificilmente lerei um livro em cujo título já esteja estampado o preconceito de que a arte possa morrer, contra o qual uma argumentação, portanto, se faz desnecessária. Se Ferreira Gullar teve de lançar mão de uma é porque sua má consciência falou mais alto que sua arte, da qual, obviamente não está minimamente seguro, já que faz parte da estética de que tratei no post acima. No entanto a sugestão é valida, pois sempre é valido saber como esses artistas defendem suas baboseiras.

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  3. Este termo já brotou em mim, me parece que tendo relação a obra, de cara amacetada, de Pier Paulo Pasolini - (" "). Então não há uma "estética da precariedade" que possa ser, no mundo, uma arte manifestação vital, de brotamento.. Na fumaça a gente vai..

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