quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Desabafo

Nos jornais, as notícias de sempre: os problemas do transporte público, o caos que as obras mal planejadas causam ao trânsito, os roubos, os assassinatos na capital...
Divulgar novos espaços de cultura e lazer, para quê? A população não está interessada. É preciso ter assuntos polêmicos para ter o que falar no cabeleireiro, no trabalho, durante o almoço, no supermercado...
A construção de um memorial para reavivar obras de um poeta, brasileiro, negro, não causa polêmica, nem interesse, nem questionamentos.
É preciso sensacionalismo para exercitar a língua e atrofiar a mente!
João da Cruz e Sousa, o "seu valor só foi reconhecido postumamente", é o que dizem. No entanto, me questiono: Reconhecido por quem? Para muitos ele ainda é um desconhecido e dentre esses muitos estão seus conterrâneos.
O poeta está entre os maiores do Simbolismo universal porque Roger Bastide, sociólogo francês, um dos pioneiro dos estudos sobre os negros brasileiros (falo negros brasileiros porque soa melhor, para mim, do que afrodescendente, mas isso já é assunto pra outro post). Roger Bastide também foi professor de sociologia da Universidade de São Paulo entre os anos de 1938 e 1954. Bastide, de fato, reconheceu Cruz e Sousa, os brasileiros, infelizmente, não tiveram a mesma capacidade.
Há 30 anos, em Florianópolis, tentaram prestar uma primeira homenagem a Cruz e Sousa, deram ao antigo Palácio do Governo o seu nome: Palácio Cruz e Sousa, tombado como patrimônio histórico em 1984. Somente há 2 anos, os restos mortais do poeta, que estavam no Rio de Janeiro, chegaram aqui na Ilha. Aos seus 110 anos de morte, completos no ano passado, Cruz e Sousa deveria ter recebido de presente um memorial, no entanto, este só começou a ser construído na última segunda-feira, 26 de outubro.
No espaço, que será construído no terreno do Palácio Cruz e Sousa, deverá ter um local para abrigar a urna mortuária do poeta simbolista, junto a ela também terá uma sala de leitura, uma biblioteca de autores catarinenses e uma cafeteria, onde poderão acontecer lançamentos e saraus literários.
Conforme diz a FCC, "a intenção é que a obra seja um espaço para reverenciar a grandeza do poeta e que sirva, também, como espaço de lazer", mas se ficarmos esperando que os veículos de comunicação sensacionalistas nos avisem sobre a inauguração do espaço ou esperando que algumas pessoas se conscientizem sobre o valor literário da poesia simbolista de Cruz e Sousa e tenham, realmente, algum interesse pela cultura local em geral, iremos "mofar com a pomba na balaia".

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