quinta-feira, 15 de outubro de 2009

outras sanitas

Gastronomia e banheiros dizem muito sobre a cultura de um povo.

Continuando a pensar o vaso sanitário levantarei uma reflexão de terceiro que anda se prolongando no meu cotidiano:

"os avisos de banheiro dizem muito sobre os costumes de um local"

Essa frase carregada de reticências veio na volta da visita a uma sanita de bar.

Na parede desse bar estava, " não mije no chão".

- Nunca estive em um lugar em que as pessoas precisassem ser avisadas, frente a sanita, que não deveriam urinar no chão


O que penso ser uma constatação parcialmente irreal. Pois ao visitar seu habitat cultural deparei-me com a única louça que conheci projetada para que urinassem no chão do banheiro público.

(na verdade é um banheiro indiano, no meio de uma praia portuguesa)

algo assim, só que bonito. *não é a foto do local descrito


Enfim, lá não havia avisos como "não mije nas paredes" ou "mije no chão" (quem sabe até um "aproveite!")

Em outro choque cultural, uma viagem de grupo para um país hermano, minha hospedagem ostentava avisos no banheiro quase redecorando-o: "não jogue nenhum papel na sanita" e "antes de sair verifique se a água do reservatório não continua vazando, evite desperdício".
O detalhe é que o local estava quase sempre inundado e isso não parecia afetar o staff.

Rememorando a luta por banheiros nas caminhadas por Montevideo comentado um post antes, registro que a ida a um museu é sempre uma felicidade para viajantes-estudantes-visitantes de pontos culturais. Em geral são os banheiros mais bem cuidados, espaçosos e limpos. No que me surpreendi à manifestação do grupo de seu estranhamento:

- Não tem lixeiro, não me sinto mal de jogar papel no vaso.

E por que se sente mal, se este é um procedimento normal no local? É contra os princípios da vida? Certamente é contra os ensinamentos do dia corrente.

Retornando para casa, me sinto tranquila pelos avisos que não tenho em meu próprio trono, sempre acompanhado de boa literatura.

Eis que ao voltar então minhas atividades universitárias, procuro um cubículo sanitário na faculdade e ao entrar encontra a sanita com a tampa baixa e uma pegada marcada em seu topo.
Recordo-me, imediatamente, de um episódio constrangedor e cômico ao mesmo tempo. No começo de uma noite de bar vou ao banheiro, refaço o ambiente: ruídos ao fundo, desconforto habitual, preparo ritual. Barulho incomum, passos e alguém pula, no que compreendo ser o pulo sobre a sanita ao lado para debruçar-se na divisória e invadir a privacidade da evacuação. Grita "mulheres" e sai correndo.

Quando pensei escrever sobre tais reflexões imaginei que ainda teríamos que afixar nas paredes dos banheiros "proibido subir na sanita", depois me dei conta de que já tinha lido este aviso e mais, buscando ilustração para essas palavras, descobri até mesmo incentivos para o ato de espiar.


Um comentário:

  1. http://www.sintomnizado.com.br/polaroidesprivadas

    http://www.toiletmuseum.com/internationale2.html

    é incrível como uma busca no google com "vaso sanitário", "banheiros", "sanitas" remete a uma quantidade gigantesca de pessoas dedicando-se a pensar e desenvolver a percepção sobre as sanitas (e não vale falar de Duchamp).

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