terça-feira, 27 de outubro de 2009

Samba como arte trágica

Edison Carneiro, um dos pioneiros no estudo da cultura afrobrasileira, escreveu que “o negro e o mulato – os homens abandonados dos morros, das favelas, dos bairros inasalubres da cidade – exprimiram seu sofrimento e a sua desesperança, mas também a sua vontade de viver, na batucada, no maxixe, no choro e no samba”. Entenda-se: não se trata de dizer que esse cancioneiro ora enfatiza a dor, ora a alegria. A rigor, ao menos nas manifestações mais notáveis da musicalidade afrodescendente, o que se vê é, antes, uma enigmática justaposição de afetos contraditórios, à maneira do que sucede às tragédias gregas na visão de Nietzsche.
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Monarco, o chefão da Velha Guarda da Portela, é hoje, no samba, o grande representante da arte de fazer do gozo, não o oposto do sofrimento, mas um efeito de seu atravessamento. Basta ouvir "Coração em desalinho" para que se tenha uma idéia do que estou dizendo.
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Monarco esteve em Floripa no findi. Cantou na sede da Embaixada Copalorde. Azar de quem não estava lá. O cara sabe tudo. Repertório perfeito, voz grave, precisa, sem floreios: é o Sinatra do samba.

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